Lembro bem de uma cena recorrente nos meus dias de infância.
Meu pai me levava até a locadora mais próxima e lá eu permanecia por uns bons 20 minutos. Olhava atentamente as prateleiras em busca de um lançamento. Na verdade, nem precisava ser lançamento. Certas capas sempre me saltavam aos olhos. Eu adorava alugar filmes! Ficava olhando as fitas, relembrando as histórias que eu já havia assistido e muitas vezes queria porque queria ver outra vez!
Eu cresci, mudei da sessão infantil para o suspense. Outras vezes andava pelos setores da comédia, drama, terror… Haviam prateleiras e mais prateleiras de possibilidades.
Normalmente a atendente sugeria alguns filmes e sempre perguntava depois se eu tinha gostado, no momento da devolução. Claro que, pela situação, eu sempre respondia que sim.
Algumas vezes eu fui ‘premiado’ com um filme cuja fita estava enrolada ou mesmo toda “comida” pelo vídeocassete. E nesses casos não tinha jeito. Avançava o filme e aquela cena danificada ficava só na imaginação.
Os grandes e velhos VHS se transformaram nos compactos e refinados DVD’s. Não precisávamos mais rebobinar o filme, mas a magia da locadora ainda continuava ali. Agora já não ía mais acompanhado do meu pai. Os amigos haviam tomado seu lugar e sempre escolhiamos um bom filme para a sessão pipoca do final de semana. Por muitas e muitas vezes eu voltei ali.
O tempo passou, sai da minha terra natal e durante alguns anos fiquei sem frequentar nenhuma locadora.
Nesse meio tempo cresceu a pirataria e o download de filmes na internet.
As locadoras reduziram o valor da locação, mas mesmo assim não tinham mais condições de concorrer com a comodidade dos downloads ou ao preço dos filmes piratas.
Foi então que eu entrei numa locadora da minha cidade. As prateleiras vazias e um cartaz anunciava a venda de filmes. Olhei as capas com atenção uma última vez, escolhi alguns e ao pagar, descobri conversando com o dono que após 22 anos de atividade, a locadora estava fechando. Me lembrei da minha infância, dos VHS rebobinados, dos DVD’s assistidos com os amigos e de tantas e tantas vezes que aquele lugar esteve presente na minha adolescência.
Fiquei saudosista, levei meus filmes recém comprados pra casa, como se fossem relíquias de um museu. Ao menos na prateleira de casa a locadora permanece aberta.
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