Ilusionismo

As vezes a magia acaba
O coelho não sai mais da cartola
Número com cartas já não encanta

Não adianta usar varinha
Ou estalar os dedos
Nem palavra mágica resolve

A ilusão acabou
Ficou velha
Perdeu a graça

E na tentativa de criar algo novo
Será que me iludo ou ainda impressiono?
Será que ainda existe algum truque
Escondido na manga?

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Olhos fechados

De olhos cerrados somos todos iguais.
Independente de onde recostamos a nossa cabeça, neste instante somos todos pensamentos, sonhos e desejos. E nada disso pode e nem deve ser materializado ou calculado. Em termos de ideias somos todos turbilhão.
E quando estamos prestes a cair no sono nos aproximamos.
Medos, anseios, projetos e expectativas… estão todos lá, se fazendo presentes.
Quando nos encolhemos na cama diante de um pesadelo somos todos humanos. E durante a nossa entrega ao inconsciente, não somos nem melhores nem piores, somos apenas nós mesmos.
Permanecemos sem distinção enquanto nos viramos de um lado para o outro.
E assim persistimos, mantendo os olhos bem fechados.

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Transição dos astros

“Marte em ascenção com Júpiter conspiram a seu favor. Momento metafísico de aproveitar a vida e a sorte no seu campo de amor celestial. Lembre-se, a Terra é redonda!”

Quem nunca ficou com um nó na cabeça após ler previsões do horóscopo?
Afinal, que diferença faz se Mercúrio, Vênus ou Plutão entraram na 5ª casa do meu signo? Será que esse tipo de previsão gera algum efeito além de nos fazer refletir sobre a exclusão de Plutão da condição de planeta?
E a Lua conseguiria mudar a consequência das minhas decisões?
Nenhum alinhamento dos planetas pode ser mais poderoso que a nossa força de vontade!
Então, se a mulher do horóscopo disser que o meu dia não será muito bom, tenho 24h para provar a ela o contrário!


Proibido estacionar

Se você já se sentiu inseguro alguma vez na vida, PARABÉNS:
– Isso prova que você é mesmo um homo sapiens!
Insegurança faz parte da natureza humana.
Afinal, quem não tem medo de andar completamente no escuro?
A sensação de estar em uma encruzilhada é essa. Incerteza, receio, medo.
Esse medo todo vem da nossa crença implantada de que errar é algo ruim.
Ninguém quer errar!
O erro traz consequências, implica repensarmos nossos atos.
E esse bicho chamado ser humano é o único que age antevendo seus passos. Ou seja, agimos pensando na ação/reação das nossas decisões. E claro, queremos calcular todas as medidas para que a nossa iniciativa seja positiva e vitoriosa. Isso é bom! Impede muitas vezes que façamos coisas estúpidas das quais nos arrependeríamos muito depois. Mas, também bloqueia muitas ações que seriam verdadeiramente brilhantes e que optamos por não realizar com medo do fracasso.
A pior repressão parte de nós mesmos.
Por que no fundo, as pessoas a sua volta estão sentindo a mesma coisa que você. Cada uma com seus próprios anseios e dúvidas.
Então, porque não levar algo adiante? Não pare no acostamento!
Melhor se arrepender e sofrer por uma atitude concretizada do que por antecipação!


Rebobine a fita

Lembro bem de uma cena recorrente nos meus dias de infância.
Meu pai me levava até a locadora mais próxima e lá eu permanecia por uns bons 20 minutos. Olhava atentamente as prateleiras em busca de um lançamento. Na verdade, nem precisava ser lançamento. Certas capas sempre me saltavam aos olhos. Eu adorava alugar filmes! Ficava olhando as fitas, relembrando as histórias que eu já havia assistido e muitas vezes queria porque queria ver outra vez!
Eu cresci, mudei da sessão infantil para o suspense. Outras vezes andava pelos setores da comédia, drama, terror… Haviam prateleiras e mais prateleiras de possibilidades.
Normalmente a atendente sugeria alguns filmes e sempre perguntava depois se eu tinha gostado, no momento da devolução. Claro que, pela situação, eu sempre respondia que sim.
Algumas vezes eu fui ‘premiado’ com um filme cuja fita estava enrolada ou mesmo toda “comida” pelo vídeocassete. E nesses casos não tinha jeito. Avançava o filme e aquela cena danificada ficava só na imaginação.
Os grandes e velhos VHS se transformaram nos compactos e refinados DVD’s. Não precisávamos mais rebobinar o filme, mas a magia da locadora ainda continuava ali. Agora já não ía mais acompanhado do meu pai. Os amigos haviam tomado seu lugar e sempre escolhiamos um bom filme para a sessão pipoca do final de semana. Por muitas e muitas vezes eu voltei ali.
O tempo passou, sai da minha terra natal e durante alguns anos fiquei sem frequentar nenhuma locadora.
Nesse meio tempo cresceu a pirataria e o download de filmes na internet.
As locadoras reduziram o valor da locação, mas mesmo assim não tinham mais condições de concorrer com a comodidade dos downloads ou ao preço dos filmes piratas.

Foi então que eu entrei numa locadora da minha cidade. As prateleiras vazias e um cartaz anunciava a venda de filmes. Olhei as capas com atenção uma última vez, escolhi alguns e ao pagar, descobri conversando com o dono que após 22 anos de atividade, a locadora estava fechando. Me lembrei da minha infância, dos VHS rebobinados, dos DVD’s assistidos com os amigos e de tantas e tantas vezes que aquele lugar esteve presente na minha adolescência.
Fiquei saudosista, levei meus filmes recém comprados pra casa, como se fossem relíquias de um museu. Ao menos na prateleira de casa a locadora permanece aberta.


Coletivo inigualável

Eles estão na TV, nos jornais e nas ruas.
Eles falam sobre a vida e ditam as regras do jogo.
Eles nos dizem o que vestir, o que comer e o que fazer.
Eles ordenam como devemos nos portar e o que devemos ou não dizer.
Eles impõem nossas crenças, nossos valores e impressões.
Eles discutem bons modos e criticam nossos anseios.
E são eles que criam e destróem nossos sonhos.
Eles dizem como devemos sentir e o que devemos esperar.
Eles apontam o que é certo ou errado.
Eles nos julgam, nos reprimem, nos condenam.
Eles escolhem nossos conceitos e elegem nosso ídolos.
Eles nos ensinam a adorar e a repudiar.
Eles nos dizem como devemos amar.

Mas afinal, quem são “eles”?
E porque ainda ouvimos as suas vozes?


Trocado

Hoje voltando para casa, fui abordado por um homem que andava pela rua. Normalmente nestes casos, a minha reação é sempre a mesma, com receio, vou logo dizendo que não tenho dinheiro e aperto o passo. Não foi esse o caso.
Aquele homem me abordou de forma tão educada que não tive como não abrir a carteira para pegar algumas moedas. E enquanto eu procurava algum trocado ele me fez uma pergunta que me deixou sem reação:
– Como vai a sua vida?
Por alguns instantes fiquei paralisado, sem conseguir formular uma resposta.
Retirei algumas moedas e entreguei ao homem, respondendo finalmente que a minha vida estava corrida, mas ia bem. Ele agradeceu muito e continuo a caminhar em sentido oposto ao meu.
Desci a rua pensando no que acabara de acontecer.
Quantas pessoas no meu dia-a-dia, com quem converso e convivo sempre, me fizeram essa mesma pergunta? Quem durante a rotina pára um momento e pergunta como o outro está se sentindo?
E aquele homem que nem me conhece e que com certeza tem muitas outras coisas com que se preocupar, fez questão de perguntar.

Nestas horas percebo as virtudes e as falhas que temos.
E me questiono sobre o que realmente é importante na vida.

Esta noite aquele homem vai dormir com algumas moedas a mais no bolso.
E eu vou dormir com alguns outros valores em mente.


Malabarismo

Observando um artista circense no farol me dei conta de que todos nós temos um pouco de artista.
Todo dia em nossas vidas é um grande malabarismo.
Nossas três bolas são o profissional, o pessoal e o individual.
Carreira, metas e expectativas são algumas das coisas que garantem o peso da bola profissional.
Família, amigos e relacionamentos constroem a bola pessoal.
E por fim, temos nossa individualidade, nossos pensamentos e nosso ego para compor a bola individual.
Com estas três esferas começa o malabarismo.
Nosso movimento precisa ser controlado, preciso, para manter as três bolas em jogo.
O ritmo deve ser ordenado, mas todos sabem que fatores externos tendem a atrapalhar o nosso compasso.
Passamos a vida tentando equilibrar estas bolas.
E conforme elas dançam no ar, percebemos que sempre uma bola deverá ser lançada para cima…
Para então mantermos duas bolas sob o controle de nossas mãos.


Marcas

A vida é sábia
encontrou um jeito de nos fazer lembrar
de nossos tropeços

Algumas marcas são passageiras,
superficiais
permanecem conosco
mas o tempo há de apagar

Outras tantas parecem inofencivas
e muitas nem mesmo aparecem

Mas não se engane
pois as piores cicatrizes
são justamente as internas.


Bagagem

Desde a primeira vez que pisei num aeroporto fiquei fascinado. Não apenas pelo fato de ser o ponto de partida para inúmeros lugares diferentes, mas também por ser o ponto de encontro.
Todos os dias milhares de pessoas passam por ali, chegando e partindo para os mais diversos destinos.
Ficava pensando que debaixo daquele teto estavam centenas de histórias que se cruzam.
E para onde vai toda essa gente?
Que sonhos trazem em suas bagagens?

O (re)encontro de um é a despedida de outro...